Procrastinação? Agora eu sei de onde vem
Fiz essa anotação enquanto ouvia ao episódio, do podcast Bom dia, Obvious - o que a procrastinação diz sobre a sua insegurança:
Procrastinação — agora com um novo conceito, mais claro, para mim: atraso desnecessário, inconsciente, para se realizar uma tarefa. Não é preguiça, é medo, é insegurança: você julga uma tarefa ser difícil e não ser capaz de realizá-la.
Percebi que essa definição faz muito sentido, pois quando há algo que eu evito fazer é porque eu ouço uma voz me dizendo que eu não consigo fazer, e eu acredito.
E eu me perguntei, quem disse isso pra mim? Quem disse que eu não sou capaz?
Acho que foi quando eu tinha uns 15 anos, à noite, na cozinha da casa onde passei a maior parte da minha vida. Meu pai me disse: “não sabe nem fazer um arroz, como é que você quer namorar?” Ele disse isso, pelo que me lembro, porque deixei o arroz queimar, e na época eu tinha acabado de começar um “namoro”. Meu pai passou um tempo aproveitando toda oportunidade de “falha” minha para me dizer tais coisas, “Não arruma nem o seu quarto, como vai fazer tal coisa?”. Hoje eu sei que essas coisas que ele dizia não fazem sentido, eu poderia destrinchar palavra por palavra. Mas, na época eu não fui capaz de fazer isso. Muitas vezes, eu só conseguia chorar. Eu sentia muita mágoa e tristeza, eu chorava por saber que o que ele me falava era mentira, mas ele afirmava como se fosse verdade. Assim como quando minha mãe está estressada e diz que eu faço as coisas com má vontade, mal feitas, sendo a maior mentira, a maior calúnia, a mais falsa acusação.
Eu não sei por que, eles, por exemplo, se expressam de tal forma, mas talvez não caiba a mim entender. Talvez não seja responsabilidade minha entender como os outros agem, a fim de ajudá-los, com a esperança de que assim não me magoem mais.
O que eu posso fazer diante dessa situação, onde as pessoas falam coisas absurdas sobre mim ou para mim, coisas que estão muitíssimo longe da verdade, usando palavras com espinhos que me ferem? O que eu posso fazer? Eis aqui uma pergunta, ainda, sem resposta para mim.
Queria falar mais um pouco — ou talvez muito — sobre como me sinto, pois talvez eu sinta mais coisa do que penso sentir.
Quando uma pessoa me diz algo, quando ela diz sua opinião sobre mim, e que eu julgo não ser verdade — afinal, como o outro poderia afirmar algo sobre mim, sabendo menos sobre mim do que eu mesma? Pois é, acho que ele não pode. — eu me sinto mal, de intensidade dependendo da acusação.
Uma vez minha mãe insinuou que eu havia mentido, e eu fiquei extremamente magoada, triste e principalmente com raiva, porque eu não minto pra ninguém. Há poucas coisas que eu odeio na vida, mas uma delas é mentira, e eu não faria isso de jeito nenhum — principalmente com a pessoa que me ensinou a não mentir. Ao ouvir o que ela me disse eu chorei instantaneamente, pois me magoou muito ela pensar que eu faria tal coisa.
Esse tipo de coisa dói muito, e eu ainda não entendo completamente o porquê. Mas eu quero encontrar respostas, porque isso me corrói. Talvez seja porque eu me esforce tanto pra ser uma “boa pessoa”, pra vir alguém me dizer o contrário. Eu me esforço muito pra fazer as coisas bem feitas, pra minha mãe vir me dizer que eu não faço, assim invalidando todo o meu esforço — que adianto, não é pouco. Talvez por isso doa tanto, porque além de não ser verdade, é o oposto do que eu realmente faço, vai contra todo o meu empenho, princípios, valores, e, portanto, contra mim.
E uma pessoa, querida, vir contra mim, num cenário em que eu me dedico por ela, dói e muito. Dói tanto que eu não sei o que fazer. É um problema que eu não sei resolver. Mas qual seria o problema? Eu fiz algo de errado? Ou essas pessoas que me magoaram ao se expressar dessa forma? Elas poderiam me machucar menos, comunicando suas insatisfações — que talvez nem tenham a ver comigo — de outra maneira? Será que elas não sabem, verdadeiramente, o que as incomodam e portanto não sabem o que dizer ou como dizer? Volto ao ponto de que talvez esse fardo não seja meu. De que talvez, não seja um problema para eu resolver, logo volto à pergunta: o que eu faço? O que posso fazer quando o outro age assim comigo?
Diante de tanta dor, às vezes, eu paraliso. Eu ignoro, “me finjo de morta”, espero o outro parar e ir embora. Uma frase que me apoia nesse meu modo de agir é: tá tudo bem não fazer nada, quando você já tá lidando com muito.
Mas, por vezes a mágoa não é tanta e a dor não é intensa o suficiente para me paralisar. Às vezes, eu consigo lutar, consigo dizer: pare, por favor, o que você está dizendo não faz sentido e me magoa, me machuca e me deixa triste.
Por vezes, o que eu digo pode ser suficiente para a pessoa voltar-se para si e perceber as coisas que disse. Ocasionalmente funciona: a pessoa para, pede desculpa. Nesses casos, eu fico feliz por ter conseguido falar, pois quase sempre eu tenho um posicionamento, mas nem sempre consigo o externalizar.
Afinal, eu tenho permissão para fazer isso? Já me disseram muitas vezes que não. Eu tentei algumas muitas vezes, e me reprimiram, me acorrentaram, calaram-me me a boca. Felizmente essa resposta eu tenho, e aos poucos aprendo ainda mais que eu posso, sou capaz e devo falar.
Pouco a pouco vou silenciando as vozes repressoras que ainda ecoam dentro de mim, aquelas mesmas que dizem que não sou capaz de fazer algo, que surgem quando olho a minha lista de tarefas, por exemplo. Estou aprendendo a falar mais alto do que elas, as fazendo entender que elas precisam ir embora, e que elas irão. E quando elas forem, não voltarão mais.
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